Enquanto
em abril a palavra do momento em relação à pandemia do novo coronavírus era o
distanciamento social, na última semana outro termo ganhou visibilidade: o lockdown. A palavra é o
correspondente em inglês a confinamento. Mas passou a ser adotada no Brasil
pelo seu uso corrente nas discussões internacionais acerca de formas de evitar
a circulação de pessoas e a disseminação do vírus.
Um
estudo lançado na sexta-feira (8) por mais de 60 pesquisadores do Imperial
College de Londres, um importante centro de estudos e pesquisas sobre saúde, apontou o lockdown obrigatório
como uma medida “que se provou efetiva na contenção da difusão do vírus”.
Ao analisar o caso
brasileiro a partir de medidas adotadas em 16 estados no país, os
investigadores concluem: “na falta de intervenções mais fortes, um crescimento
substancial futuro da epidemia é esperado nos 16 estados considerados, levando
a uma piora da crise de saúde da covid-19.”
Outro estudo do Imperial
College, publicado em 30 de março, conduzido pela equipe de resposta à
covid-19, mapeou práticas de lockdown em
diversos países, como Áustria, Bélgica, Dinamarca,
França, Alemanha, Itália, Noruega, Espanha, Suíça e Reino Unido.
Os autores classificam o lockdown como
“legislações ou regulações relativas à restrição de interação face-a-face,
incluindo o banimento de eventos não essenciais, fechamento de escolas e
espaços culturais e ordens para que pessoas permaneçam em casa.”
Contudo, os pesquisadores
identificaram diferentes manifestações desse tipo de medida em cada país. A
Áustria proibiu acesso a locais públicos e reuniões com mais de cinco pessoas,
além de recomendar pelo menos 1 metro de distância. A Dinamarca vetou reuniões
com mais de 10 pessoas. Na Alemanha, esse limite era de até duas pessoas.
A França exigiu autorização
para pessoas saíram de casa, com multa para violações. Na Itália também foi
ordenada a permanência em casa, a não ser em caso de viagens essenciais. Na
Noruega, somente pessoas que vivem no mesmo lugar podiam sair à rua
juntas. No Reino Unido, encontros com
mais de duas pessoas que não eram da mesma casa também eram impossibilitados,
sob pena de sanções policiais.
No
Brasil, o termo é previsto na diretriz até o momento vigente do Ministério da
Saúde. O boletim epidemiológico número 8, publicado em 9 de abril, define o lockdown como
uma das medidas de distanciamento social. O bloqueio total (como o termo foi
traduzido) consiste em cercar um determinado perímetro (estado, cidade ou
região), interrompendo toda atividade por um breve período de tempo.
De acordo com a pasta, esse
modelo tem como vantagem ser “eficaz para redução da curva de casos e dar tempo
para reorganização do sistema em situação de aceleração descontrolada de casos
e óbitos”. A desvantagem é o alto custo econômico.
Além dele, são modalidades
menos rígidas o distanciamento seletivo e o ampliado.
O primeiro seria aquele
focado apenas em pessoas acima de 60 anos ou com doenças crônicas, os grupos de
risco, além daquelas pessoas que apresentam sintomas da doença. Também
conhecido como “isolamento vertical”, ele teria como finalidade
viabilizar o retorno às atividade laborais, já que não impossibilita a
circulação de pessoas em estado aparentemente saudável ou que já passaram pela
doença e são consideradas imunizadas.
Já o ampliado, que vem sendo
adotado na maior parte dos estados e cidades, prevê que todos os setores fiquem
em casa, à exceção dos essenciais, desde que nesses seja garantida higienização
e evitada a aglomeração. De acordo com o ministério, o objeto é “reduzir a
velocidade de propagação, visando ganhar tempo para equipar os serviços com os
condicionantes mínimos de funcionamento: leitos, respiradores, EPI, testes
laboratoriais e recursos humanos.”
Após
a mudança no comando do MS, o novo titular, Nelson Teich, vem defendendo o que chamou de abordagem “não linear”, com
medidas diferentes para locais distintos de acordo com o avanço da doença e a
capacidade do sistema de saúde daquele local de tratar os pacientes, incluindo
recursos humanos, leitos, equipamentos e suprimentos.
Teich afirmou já ter
finalizado a atualização da diretriz divulgada no boletim epidemiológico 8,
formulada pela equipe de seu antecessor, Luiz Henrique
Mandetta. Mas declarou nesta semana que ainda não havia divulgado as novas
orientações por receio do tema ser transformado em disputa política. Ele
reconheceu que em locais com situação mais grave, o confinamento pode ser uma
estratégia necessária.
Estados e municípios:
A
definição concreta das medidas de distanciamento social cabe aos estados. Assim
como nas iniciativas de distanciamento ampliada, há diferentes abordagens no confinamento. Cada
governo estadual ou prefeitura está determinando os limites e eventuais formas
de sanção.
O governo do Maranhão foi um
dos primeiros a empregar o termo, que traduziu como “bloqueio”, em medida que
passou a valer na terça-feira (5) na Ilha de São Luís. Foi proibida a
circulação, mantidos alguns serviços como mercados, farmácias e circulação de
caminhões de carga. O estado registrou na sexta-feira 330 mortes e 5.909 casos
confirmados.
O número de usuários de
transporte público caiu de 641 mil para 96 mil com a o início do bloqueio. Em
entrevista coletiva na sexta-feira (8), o governador Flávio Dino anunciou para
a próxima semana o rodízio de carros na capital, com aqueles de placa com
número final par e ímpar podendo circular em determinados dias alternadamente.
“Às vezes ouço crítica de
que o lockdown não
está funcionando. Há uma ideia falsa, talvez até um desejo de pessoas com más
intenções, de que nós iríamos promover uma espécie de regime mais duro do que o
penitenciário. Cenas insensatas não serão verificadas. A polícia está
autorizada a adotar medidas coercitivas. Porém, como último caminho. O que
estamos visando é o reforço da prevenção”, declarou Dino.
Fonte: Agencia Brasil
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