Contas
bancárias controladas pelo ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, foragido sob
acusação de integrar uma milícia, foram usadas para abastecer Fabrício Queiroz
no suposto esquema de "rachadinha" no antigo gabinete do hoje
senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro. A conclusão é do Ministério Público do Rio de
Janeiro com base em dados da quebra de sigilo bancário e fiscal de Queiroz e da
mulher de Adriano, Danielle Mendonça da Nóbrega, ex-assessora de Flávio.
A
Promotoria apura a prática da "rachadinha" no antigo gabinete de
Flávio, que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário para os
parlamentares. Estão sendo investigados crimes de peculato, lavagem de
dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa. O pivô da
investigação é Queiroz, policial militar aposentado que era
assessor de Flávio. A origem da relação de Queiroz com a
família Bolsonaro é o presidente da República. Os dois se conhecem
desde 1984 e pescavam juntos em Angra dos Reis.
Os
investigadores afirmam que Danielle devolveu ao menos R$ 150 mil do salário que
recebeu de 2007 a 2018 a Queiroz -cerca de 19% do total de
seus vencimentos. Desse volume, R$ 115 mil foram repassados por intermédio
de conta bancárias controladas por Adriano, de acordo com o Ministério Público.
Foram usadas contas em nome de dois restaurantes da família do ex-capitão e da
mãe dele, Raimunda Veras Magalhães, em período anterior à também nomeação dela
no gabinete de Flávio.
Também
há indicação do controle por Adriano do dinheiro que seria repassado por
Danielle a Queiroz, em diálogos entre o casal por aplicativo de mensagem. Eles
foram obtidos durante a Operação Os Intocáveis, em janeiro, quando o telefone
da mulher do ex-PM foi apreendido e ele se tornou foragido. Quando a
ex-assessora de Flávio se queixa de sua exoneração em novembro, Adriano afirma
que "contava com o que vinha do seu tmbm [também]". Para o Ministério
Público, a frase revela que o ex-capitão também ficava com parte do salário
dela.
Em outro
diálogo, Adriano afirma que iria conversar com Queiroz sobre a exoneração, a
fim de evitá-la. O ex-assessor de Flávio é chamado apenas de "amigo".
O ex-capitão é acusado de comandar uma das milícias mais
antigas e violentas do Rio de Janeiro, na favela de Rio das Pedras (zona
oeste). É também suspeito de vínculos com jogo do bicho. Foragido há quase um
ano, Nóbrega foi companheiro no 18º Batalhão da PM de Fabrício Queiroz. O
Ministério Público afirma também que as mensagens mostram que Danielle reconheceu
a amigas que era uma funcionária fantasma. Numa mensagem enviada para uma dela,
diz que "já vinha [há] um tempo muito incomodada com a origem desse $
[dinheiro] na minha vida".
Em
outra conversa, uma amiga identificada como Paty diz para Danielle que foi
Adriano quem arrumou a nomeação e que ela "poderia ter se enrolado com
isso".
Queiroz também conversa diretamente com Danielle. Logo
após a divulgação de reportagens sobre a movimentação atípica em sua conta
bancária identificada pelo Coaf (Conselho de Controle das Atividades
Financeiras), o ex-assessor de Flávio sugere a ela que tome cuidado ao falar no
telefone.
Fonte:
Agencia Brasil
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