Eleito pela
terceira vez consecutiva deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, Jean
Wyllys vai abrir mão do novo mandato.
Em
entrevista exclusiva à Folha de S.Paulo, o parlamentar -eleito com 24.295 votos
e que está fora do país, de férias- revelou que não pretende voltar ao Brasil e
que vai se dedicar à carreira acadêmica. O presidente nacional do PSOL, Juliano
Medeiros, confirmou que a vaga de Wyllys deve ser ocupada pelo suplente David
Miranda (PSOL-RJ), que atualmente é vereador no Rio de Janeiro.
Desde
o assassinato da sua correligionária Marielle Franco, em março do ano passado,
Wyllys vive sob escolta policial. Com a intensificação das ameaças de morte,
comuns mesmo antes da morte da vereadora carioca, o deputado tomou a decisão de
abandonar a vida pública.
"O [ex-presidente do Uruguai] Pepe Mujica, quando
soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: 'Rapaz, se cuide. Os
mártires não são heróis'. E é isso: eu não quero me sacrificar",
justifica.
De acordo com Wyllys, também pesaram em sua resolução de
deixar o país as recentes informações de que familiares de um ex-PM suspeito de
chefiar milícia investigada pela morte de Marielle trabalharam para o senador
eleito Flávio Bolsonaro durante seu mandato como deputado estadual pelo Rio de
Janeiro. Primeiro parlamentar assumidamente gay a encampar a agenda LGBT no
Congresso Nacional, Wyllys se tornou um dos principais alvos de grupos
conservadores, principalmente nas redes sociais. Ele também se diz
"quebrado por dentro" em virtude de fake news disseminadas a seu
respeito, mesmo tendo vencido pelo menos cinco processos por injúria, calúnia e
difamação.
"A
pena imposta, por exemplo, ao Alexandre Frota não repara o dano que ele produziu
ao atribuir a mim um elogio da pedofilia. Eu vi minha reputação ser destruída
por mentiras e eu, impotente, sem poder fazer nada. Isso se estendendo à minha
família. As pessoas não têm ideia do que é ser alvo disso", afirmou
Wyllys.
Deputado federal eleito pelo PSL de São Paulo, Frota foi
condenado em primeira instância na Justiça Federal, em dezembro do ano passado,
a pagar uma indenização de R$ 295 mil por postar uma foto de Jean Wyllys
acompanhada de uma declaração falsa: "A pedofilia é uma prática normal em
diversas espécies de animal, anormal é o seu preconceito".
Wyllys se ressente, sobretudo, da falta de liberdade no
Brasil. "Como é que eu vou viver quatro anos da minha vida dentro de um
carro blindado e sob escolta? Quatro anos da minha vida não podendo frequentar
os lugares que eu frequento?", questiona.
Também
avisa que vai se desconectar das redes sociais temporariamente e que não
pretende acompanhar a repercussão do seu anúncio.
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