Há
certo exagero na avaliação feita pelo deputado estadual Marcelo Nilo (PSB) aos
mais chegados de que a chapa com que o governador Rui Costa (PT) pretende
disputar as eleições de outubro está definida desde que ele foi obrigado a recuar
no seu projeto de concorrer à reeleição para a presidência da Assembleia
Legislativa, no princípio de 2017. Nilo atribui o fracasso de seu objetivo,
entre outros fatores, a uma aliança que formaram naquele momento PP e PSD,
partidos cujos representantes estão escolhidos para formar ao lado de Rui e
Jaques Wagner na sucessão estadual.
Mais prudente seria afirmar que, de lá para cá, os dois
aliados do petismo, além de consolidar a força que os tornaram os dois mais
importantes colaboradores do governador, não pisaram em qualquer casca de
banana que pudesse levar a questionamentos com relação à sua lealdade para com
o governo e o próprio Rui Costa. Ao reconhecimento da importância eleitoral das
duas forças, portanto, se junta o grau de confiança até aqui adquiridos por PP
e PSD, que indicarão para a chapa do governador, respectivamente o
vice-governador João Leão, para a mesma vice, e o atual presidente da
Assembleia, Angelo Coronel, para a segunda vaga ao Senado.
A condição ajuda a explicar o motivo de os dois partidos
terem tido a primazia para a composição da chapa, mas não justifica o fato de o
governador vir protelando o seu anúncio, que pode ficar agora para fins de
maio. Em verdade, Rui Costa tenta administrar o fator Lídice da Mata, senadora
do PSB que, legitimamente, se acha habilitada para pleitear o direito de
concorrer mais uma vez ao Senado na chapa encabeçada pelo PT, como aconteceu há
oito anos, quando o candidato ao governo fora Jaques Wagner, mas que, do ponto
de vista eleitoral e político, perdeu as condições de impor a exigência ao
governo.
Não erra quem atribui parte da dificuldade de Lídice ao
fato de, neste interregno, ela ter se tornado, num dado momento, praticamente
uma rival do governador. Foi quando, encabeçando na Bahia o projeto presidencial
do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em 2014, ela virou candidata ao
governo da Bahia contra Rui, projeto que poderia ter tido consequências
políticas e eleitorais muito mais significativos, caso o jovem político
pernambucano, neto do esquerdista Miguel Arraes, não tivesse morrido num
trágico acidente aéreo quando sua campanha começava a fazer os primeiros vôos.
Apesar de, aquele momento, em que Rui era um mero
candidato de Wagner à própria sucessão, com pequenos índices de intenção de
voto nas pesquisas, ter trincado a relação entre os dois, não se pode dizer que
o governador não trata com cuidado o futuro da senadora. Há preocupação, por
exemplo, com a construção de um plano B para ela, o qual passa pelo lançamento
de sua candidatura à Câmara dos Deputados, uma forma de manter sob seu controle
o PSB, que, no caso de sua ausência no cenário nacional, pode migrar para as
mãos do deputado federal Bebeto, o que, definitivamente, não interessa ao
governo.
Artigo
do editor Raul Monteiro publicado originalmente na Tribuna.
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