O ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT), quem
diria, foi parar na mais alta corte comercial da Inglaterra, a Queen’s Bench
Division Commercial Court. É mais um capítulo da polêmica obra do Porto Sul, um
complexo formado por porto e ferrovia, que está sendo construído em Ilhéus
(BA), iniciado por Wagner e que prossegue no atual governo do também petista
Rui Costa. A obra vem sendo contestada por ambientalistas, pois desmatará 500
hectares de Mata Atlântica. Na corte inglesa, discute-se como, em um único dia,
reverteu-se um parecer do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) que
reprovava o empreendimento. Existem veementes indícios de pagamento de propina
tendo como endereço os aveludados bolsos do petista.
O início da história do Porto Sul remete a 2007,
quando o bilionário indiano Pramod Argawal resolveu desenvolver o projeto Pedra
de Ferro, ou Porto Sul, para extrair minério de ferro no município de Caetité e
levá-lo até Ilhéus, pela estrada de ferro. O objetivo da empresa privada seria
alcançado com a ajuda de recursos públicos. O então governador da Bahia, Jaques
Wagner, conseguiu que a obra fosse incluída no Plano de Aceleração e
Crescimento (PAC).
Mas só os recursos públicos não eram suficientes. Era
preciso vencer a burocracia que emperrava os planos do magnata indiano. Um
deles era a recusa do Ibama em emitir a licença de instalação do porto. É aí
que a resistência do Ibama é resolvida por um passe de mágica. No início do dia
19 de setembro de 2014, técnicos do Ibama negaram a autorização da licença de
instalação da obra. No final desse mesmo dia, o consórcio conseguiu permissão
dada de forma misteriosa pelo presidente do órgão na época, Volney Zanardi
Junior. Para o diretor da SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, Jaques Wagner
agiu no episódio como um verdadeiro coronel no Sul da Bahia, para conseguir
autorização para a obra. “Ele reclamava tanto de Antônio Carlos Magalhães que
agiu de forma semelhante”, comparou, referindo-se ao ex-senador e coronel
baiano, falecido em 2007.
Exatamente pelas suspeitas em torno da reviravolta no
Ibama é que esse episódio foi parar na Corte inglesa. Sócia do indiano no Porto
Sul, a Eurasian Natural Resources Corporation (ENRC) cogitava comprar a
totalidade do empreendimento. Uma última parcela, de US$ 220 milhões, seria
paga somente se Pramod Argawal conseguisse a licença do Ibama. Ele conseguiu,
mas não evitou que o caso fosse parar na Justiça inglesa.
No dia 20 de fevereiro, na Queen’s Bench Division
Commercial Court, os advogados da ENRC alegaram que não pagaram a parcela
porque descobriram que a licença de instalação do Porto Sul foi conseguida com
pagamento de propina. E um dos beneficiados seria Jaques Wagner. Um fato que
corrobora a suspeita é o número de contatos telefônicos entre o indiano e o
ex-governador. Segundo os advogados, foram feitas quatro ligações para o
telefone de Wagner às vésperas da saída da licença. Wagner defende-se das
acusações. Nega qualquer vantagem pessoal. Em nota enviada por sua assessoria,
ele afirma que “tanto o porto como a ferrovia são essenciais para o
desenvolvimento da Bahia, do Nordeste e do Brasil”. Na próxima terça-feira 22,
representantes do Ibama terão reunião em Ilhéus com o Ministério Público
Federal e integrantes da sociedade civil para tratar do caso. Este é mais um
enredo obscuro que envolve o petista. Ele chegou a ser cotado para substituir
Lula na disputa pela Presidência, mas até o PT já abandonou o barco do
ex-governador. Antes solução, Jaques Wagner virou um porto de problemas.
Fonte: Isto É
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