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sábado, 7 de janeiro de 2017

Contos & causos - Enfiada de macacos



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Quando estive no sertão de Goiás vi uma cena horrível e rara, talvez única: vi uma jibóia engolir toda uma enfiada de macacos!
Eis como:
Sabe-se que quando os macacos querem atravessar um rio, não largo, o bando sobe a uma árvore alta, à beira d'água, e lá uma vez em cima o capitão, que é o macaco chefe, engancha o rabo num galho forte, dela; outro vem e engancha o rabo no terceiro, e assim por diante, até o derradeiro; e quando assim estão todos presos, uns aos outros, e portanto pendurados, como uma corda, nesse jeito começam a balançar-se de vaivém a enfiada ganha impulso.
É como uma pêndula de relógio ou como um badalo de sino, tal e qual!
Quando o macaco da ponta de baixo consegue agarrar um ramo na margem oposta, prende-se a ele firmemente, marinha pelo tronco acima e dá um grito: então o macaco da ponta de cima - o capitão - da outra margem solta-se e - pronto! - a enfiada atravessou o rio a pé enxuto.
Ora, uma vez, silenciosamente, para não despertar os jacarés, eu descia em ubá um braço de rio, justamente numa das voltas topei com uma enfiada que se balançava, para fazer a travessia.
Parei logo de moita para ver a interessante manobra.
Num dos balanços o macaco - ponta - prendeu-se a um galho forte de uma enorme sucupira: mas quando ia a galgar o tronco acima, uma senhora jibóia - uma jibóia - senhorita! - abocou-o, faminta, e já foi engolindo como quem não encontra caroço nem espinha.
Com a dor do abocanhamento o pobre macaco gritou desesperadamente; o capitão, na outra ponta, julgando que era o sinal, desprendeu-se e a enfiada inteira bateu na água do rio!
E tanto caíram na água, os macacos todos taparam os ouvidos com as mãos mas não se desenrabaram!
Fiquei com lástima daquela atrapalhação e pus-me a gritar-lhes:
- Estúpidos! Soltem os rabos! Burros! Aproveitem enquanto ela papa o primeiro! Desenganchem!
Qual! Os burros faziam caretas? Guinchavam e não atinavam com a salvação, tão simples!
A jibóia nem o trabalho teve de mover-se: engoliu o primeiro, o segundo, o terceiro e assim todos.
O último macaco, o capitão, que era portanto o único que tinha a cauda livre, quando o companheiro da frente - o penúltimo, pois o último macaco, quando isso viu, teve um rasgo de herói, que me comoveu até as entranhas: disse adeus de mão para os dois lados, e, enroscando no pescoço a própria cauda suicidou-se!
A jibóia, talvez admirando aquele valente, não o tragou; mal engoliu o penúltimo, com a dentuça atorou-lhe a cauda e então caiu sobre a barranca o corpo ainda quente do capitão da enfiada: o suicidado.
E eu toquei minha canoinha pra diante.

Por Roberto Cohen em 20 de Novembro de 1999


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