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sábado, 15 de outubro de 2016

Contos & Causos - O cavalo relâmpago de Neco Amâncio



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O fazendeiro Neco Amâncio, pai do sanfoneiro Zé de Neco, tinha um cavalo maravilhoso, grande, alto, de porte imponente e domado no andar a trote de fazer inveja aos melhores criadores e domadores e admiração aos, como eu, menino ainda, leigo em cavalos e doma. O nome do cavalo era Pombo Roxo. Todo sábado havia até uma certa expectativa entre a molecada da Rua Manoel Mariano, onde morava o filho de seu Neco, para ver ele chegar de Dois Riachos montado no Pombo Roxo.
De longe se ouvia o bater de cascos compassados do cavalo a trote, ou seja, sempre mantendo uma das patas no chão, resultando assim num andar mais confortável para o cavaleiro que não é sacolejado para cima e para baixo como no galope. Se não bastasse tanto, havia ainda os arreios de Pombo Roxo, peças preciosas da arte em couro, feitas a capricho por Vicente Celeiro, pai do nosso amigo futebolista Martinho Souto. Eram rédeas, sela, bridão, buçal, peiteira, finamente trabalhadas e com adereços de prata pura.
Tudo aquilo inflava o ego do sertanejo Neco Amâncio, de trato rude e severo, mas que se desmanchava em açúcar diante do menor elogio ao seu cavalo. Um belo dia Seu Neco levou um rádio para meu pai consertar. Deixou de manhã e retirou à tarde, o conserto foi simples e meu pai tinha a peça em estoque.
Como gastou mais do que esperava com as compras e as bicadas, deixou para pagar no sábado seguinte, o que não era problema nem novidade para um homem de palavra e com crédito sem limites onde quer que fosse. No sábado seguinte chegou Seu Neco para pagar o conserto do rádio e um dedo de prosa com Limeira, o meu pai.
Disse Seu Neco - Sabe Limeira, sábado passado me demorei na conversa com Antonio Izidio lá perto da ponte e já na metade do caminho começou a escurecer e ameaçar uma chuva. Fiquei pensando em não molhar nem as compras nem o rádio e fiquei vigiando aquele nevoeiro vindo na minha direção.
Apertei o passo do Pombo Roxo e a chuva veio vindo e eu apertando o passo e a chuva vindo. Sentia o cheiro da bruta molhando a poeira da estrada e Pombo Roxo sereno no passo.
Prá encurtar a conversa, quando cheguei na fazenda, tinha molhado somente a garupa.


Texto do Advogado Gilberto Carvalho Moura

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