O som do caminhão. Sonho de
menino. Sem nunca ter visto tal veículo, era embalado pelo som do ronco forte
do caminhão que acelerava além das serras da redondeza. Em sua imaginação de
menino: ser grande, ter uma linda mulher e se aventurar pelo mundo era uma
grande felicidade. Desde pequeno também queria ter uma família. Quem sabe
passar o seu ofício também para os herdeiros. E o auge ter até uma filha boa de
boleia. Entre porcos, galinhas e enxada, o pequeno cresceu. A escola era para
ele um trampolim para a estrada. Principalmente a matéria de geografia que lhe
ensinava os nomes dos lugares, suas localidades e distâncias e a Ciências, os
mistérios do ciclo da vida. A mãe até queria que ele seguisse a carreira na
escola, mas a sina de caminhoneiro já estava cravada em seu peito.
Além do espírito
aventureiro, a curiosidade também foi ingrediente para a formação do
carreteiro, pois aprender de tudo um pouco auxiliaria para desenvolver bem o
ofício escolhido. O início da profissão não foi fácil. Entre serras perigosas,
estradas de chão e cargas a lenhas e toras aprendeu as primeiras manobras com
um Chevrolet Brasil 1961, quatro marcha, sincronizado chamado carinhosamente
entre os caminhoneiros de Queixo Duro por ter direção mecânica. O caminhão Ford
1964 foi o seu segundo companheiro de estrada. E com orgulho comenta: - O
primeiro motor a diesel fabricado no Brasil, o motor Perkeins de cinco marchas,
apelidado pelos apaixonados por viagens de Caixa Seca por não ser automatizado.
Por outras aventuras foi o
nobre caminhoneiro conquistar e seu pai deixou na roça a chorar. Mas desejava
desbravar o mundo e ali não era o seu lugar. E de Mercedes 11 13 e depois de 20
13 de boiadeiro foi trabalhar, carregar boi do Mato Grosso e muitas fazendas
frenquentou. Há Maçarico Queixo duro, motor aspirado não era turbinado mas era
coisa nova no tempo que foi fabricado. Depois veio o Scania 101 e também o 19
24 e o Volvo N10 20 e XH e com eles muitos lugares deste Brasil ele foi conhecer,
do Sul ao Norte, do Nordeste ao Sudeste e até Centro-oeste o bravo carreteiro
rodou estrada a fora ao som de moda sertaneja daquelas que contam histórias tão
poéticas que só no tempo da viola se compunha tal melodia. Pois a saudade era
tanta, em busca do sustento que muitas vezes, meses ficava longe da família. É
assim que muitos caminhoneiros do mundo de Deus começaram seu fazer em busca de
abastecer a mesa alheia. Deixando a sua família na saudade e na esperança da
volta, para cumprir o seu destino com hora marcada de entrega. Quantas noites
sem dormir, quantos aniversários, nascimentos, enfermidades, tristezas,
alegrias dos filhos sem presenciar, quanta tristeza no olhar por estar tão
longe.
Mas sabe que a recompensa
lhe espera além de levar o pão de cada dia às mesas de tantas pessoas e
confortos para seus lares. O maior é quando chega em casa. Vê a sua família à
espera para compartilhar suas aventuras. Em torno da mesa entre causos
fantásticos degusta um petisco servido pela mulher amada. E vislumbra os
olhares de curiosidades dos filhos gerados e educados entre uma viagem e outra
trazendo a sabedoria colhida de cada lugar por onde o caminhoneiro passou.
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