Ministro
da Justiça era acusado pelo PT de "não controlar a Polícia Federal".
Mas não há quem faça isso. A saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da
Justiça era bola cantada há alguns meses. Era questão de tempo. Porém, o timing
escolhido pelo ministro – ou por quem quer que tenha decidido em seu lugar –
não poderia ser mais inoportuno. Cardozo deixa a pasta da Justiça e é
“rebaixado” para Advocacia-Geral da União (AGU) num momento em que a Operação
Lava Jato se aproxima de um ponto crucial, com a prisão do marqueteiro João
Santana, que coloca a investigação no centro da campanha eleitoral da
presidente Dilma Rousseff. É sabido que a cabeça de Cardozo é pedida há tempos
pelo ex-presidente Lula e por boa parte do PT. Lula e Cardozo nunca foram muito
chegados. A indiferença se converteu em inimizade quando a Lava Jato começou a
prender petistas. Lula se indignou com o fato de Cardozo “permitir” que a
Operação mergulhasse tão fundo nas entranhas do partido e dos negócios entre
empreiteiras e a Petrobras. Quando Joaquim Levy deixou o Ministério da Fazenda,
o ex-presidente demonstrou satisfação e disse a aliados que só faltava a saída
de Cardozo para que a tropa de choque de Dilma levasse sua assinatura completa.
O problema é que Lula, vivendo seu próprio inferno, está cada vez mais distante
do governo e da equipe que ajudou a montar.
Cardozo
deixa a Esplanada em dias tensos para o ex-presidente. Lula afirmou, na festa
em comemoração aos 36 anos do PT, que terá seus sigilos bancário e fiscal
quebrados pela Lava Jato. Trata-se de fato inédito para um ex-presidente na
história recente do país. O que pode sair dessas informações – caso executadas
-- ainda sigilosas é um mistério. Mas o fato é que Cardozo não será o capitão
do barco caso o ex-presidente seja alvo de alguma medida mais extrema do juiz
Sérgio Moro. Cardozo deixou vazar que a pressão de Lula sobre seu cargo foi uma
das razões que o fizeram sair. Se isso for verdade, a saída do ministro muito
provavelmente terá sido em vão.
Ainda
que a presidente Dilma tenha escolhido um nome heterodoxo para substituí-lo – o
novo ministro será o ex-procurador-geral do Ministério Público da Bahia,
Wellington César --, é ingênuo pensar que uma simples troca de cadeiras é capaz
de conter o ímpeto da Operação que já nocauteou alguns dos maiores empresários
do Brasil e prendeu um senador em exercício, Delcídio Amaral (PT-MS). Ainda que
César seja um protegido de Jaques Wagner que, em tese, é muito próximo de Lula,
a Lava Jato adquiriu musculatura que exacerba o poder Executivo. Assim, a
hipótese de um novo ministro atrapalhar ou colocar um ponto final no trabalho
da Polícia Federal é remota. É como usar apenas um extintor para conter o fogo
de um prédio em chamas.
Poder
& Política
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