Durante a minha infância,
vivida e bem vivida, no Sítio Boa Vista dos Nunes, município de Ouro Velho
(PB), era comum, ao entardecer, no momento em que luz do sol derrubava as
últimas fagulhas no infinito e a claridade da lua e das estrelas iluminavam a
velha calçada da nossa casa, reunir-se um grupo de pessoas para contar os
causos sertanejos e relatar as novidades do sítio.
Eu deitava no colo da minha
Maria que sentada ao lado do meu pai Davi Nunes, Davi Ribinga como era
conhecido ou simplesmente tio Davi para os mais íntimos e ali ficava em
silêncio ouvindo as conversas que giravam sempre em torno de secas; de
pescarias: de caçadas; de cangaceiros como: Lampião e Antonio Silvino; da
brutalidade inocente de Caboclo Ferreira; das proezas do vaqueiro Vicente
Matias e tantos outros.
Era bom ficar em silêncio
ouvindo aquelas belas e singelas historias. É certo que às vezes a conversa
passava para as coisas do outro mundo. Almas penosas que vagavam por aqueles
sertões assombrando medrosos como eu, ou distribuindo botijas para aqueles que
tinham nas veias a coragem do sertanejo.
Quando as conversas giravam
em torno de assombrações, era um martírio para mim, pois mesmo com sono e às
vezes quase mijando nas calças, não tinha coragem de entrar em casa sozinho,
tendo que aguardar o meu pai começar a bocejar, sinal que alertava a todos para
a hora de se recolher, ouvia-se um: BOA NOITE, INTÉ AMANHÃ! E todos rumavam
para suas casas, cansados do dia árduo de trabalho, mas com a esperança de dias
melhores.
Por Severino Nunes de Melo
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