Em 2014, nível de renda recuou ante americano; falta de
reformas emperra o desenvolvimento. O Brasil voltou a ficar estagnado na sua
trajetória rumo ao desenvolvimento econômico, na contramão de um grupo de
países emergentes de diferentes regiões que continua avançando para um nível de
renda mais elevado, como Chile, Uruguai, Coreia, Taiwan, Polônia e Estônia. O
aparente fim do ciclo de alta dos preços das matérias-primas --carro-chefe das
exportações brasileiras--, aliado à falta de reformas que poderiam aumentar o
ritmo de crescimento, dificulta a retomada do desenvolvimento brasileiro.
O poder aquisitivo do brasileiro como fatia da renda
americana --referência para comparações globais-- começou a se recuperar em
meados da década passada. Em 2011, chegou ao patamar de 30% pela primeira vez
desde o fim da década de 1980. Depois de três anos nesse nível, no entanto, a
proporção voltou a recuar levemente em 2014, para 29,5%.
Os cálculos foram feitos com base em dados do PIB (Produto
Interno Bruto) per capita dos países, expresso em Paridade do Poder de Compra
(PPC), divulgado em abril pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Essa medida
é comumente usada para comparar o poder aquisitivo médio de diferentes nações. Um
país consegue se desenvolver à medida que a sua renda média se aproxima do
patamar de países ricos.
Esse processo, chamado de convergência econômica, ocorre em
etapas. A primeira é a transição de um nível de renda baixo para médio. A
seguinte, bem mais difícil de ser atingida, é a evolução para um patamar de
renda alto. A transformação do Brasil em um país de renda média ganhou fôlego
entre as décadas de 1950 e 1970, embalada pela urbanização e pelo surgimento da
indústria básica.
"O crescimento inicial é mais fácil. Você consegue
evoluir acumulando capital. Mas, depois, o retorno sobre esse capital decresce
e outras fontes são necessárias", afirma Filipe Campante, professor de
políticas públicas da universidade Harvard.
Em 1980, a renda per capita brasileira medida em PPC chegou a
equivaler a 38% da norte-americana.
Com a crise econômica dos anos 1980, o processo de
convergência sofreu um revés que se estendeu até meados da década passada,
quando teve início uma modesta recuperação, abortada com a perda de fôlego do
crescimento nos últimos três anos.
"A convergência da renda brasileira para o nível
americano aumentou nos anos 2000 graças ao boom das commodities", afirma
Robert Wood, analista sênior da consultoria EIU (Economist Intelligence Unit).
Segundo o economista Otaviano Canuto, consultor do Banco
Mundial, a transição para um nível de renda alto depende, principalmente, da
adoção de um conjunto de normas na economia que sejam favoráveis ao
desenvolvimento de capital humano e tecnológico.
"Nesses quesitos, o Brasil e parte da América Latina
pararam no tempo", afirma.
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