A exposição freqüente a solventes exalados pela
gasolina pode provocar danos neurológicos em frentistas de postos de
combustível. É o que mostra uma pesquisa do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP) com 25 trabalhadores da capital. Foram feitos
testes visuais para identificar alterações em grupos de células do cérebro. O
pesquisador Thiago Leiros Costa destaca que houve alterações significativas em
todas as tarefas sugeridas.
“Usamos a visão para entender se o cérebro tinha
sido alterado pela exposição ao solvente. E vimos que a atividade cerebral pode
ser afetada de maneira maléfica”, disse Costa. Os testes mediram a
discriminação de cores, sensibilidade ao contraste e sensibilidade em
diferentes pontos do campo visual. “Na maioria dos testes, o participante tinha
que discriminar o estímulo, de um fundo. O estímulo ia se misturando com o
fundo até um ponto em que o participante não consegue mais diferenciar.
Conseguimos entender como está a sensibilidade para esse tipo de estímulo”, explicou.
Os voluntários passaram por exames oftalmológicos
que descartaram qualquer alteração estrutural na córnea, no cristalino ou no
fundo do olho. Mesmo assim, eles tiveram um desempenho inferior na comparação
com o grupo controle. Em quatro frentistas, a perda de sensibilidade para cores
foi tão significativa que foi necessário fazer um exame genético para descartar
a possibilidade de daltonismo congênito.
“Não é uma alteração na lente do olho. É uma
alteração do nível cerebral, seja na retina ou em outras áreas. O fato de a
gente ter encontrado alteração em todos os testes, que mediam atividades em
diferentes grupos de células do cérebro, podemos dizer que é uma perda difusa e
que provavelmente não se limita exclusivamente ao sistema visual”, declarou o pesquisador.
Thiago Costa destaca que, quanto maior o tempo de
exposição aos solventes, maiores são os danos neurológicos. “O tipo de perda
que encontramos progrediu com o tempo”, apontou. De acordo com ele, os
principais meios de contato dos trabalhadores com os químicos são as vias
aéreas. “Mas também é possível que haja certo nível de intoxicação pelo contato
com a pele e das mucosas”, acrescentou.
Embora os resultados da pesquisa sirvam de alerta
para os riscos da profissão de frentista, o pesquisador esclarece que seria
necessário ampliar os estudos no campo da medicina do trabalho para definir se
equipamentos de segurança seriam eficazes na proteção aos trabalhadores.
Agencia Brasil
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