A tragédia que já vitimou 237 jovens estudantes pode e deve servir
para a sociedade Gaúcha e Brasileira como uma oportunidade cidadã para cobrar
maior segurança em todos os espaços públicos. É certo que não poderemos evitar
todas as tragédias humanas, mas há algumas que podem ser evitadas, em função
dos riscos e das probabilidades de acontecerem. O que a cidadania não pode
tolerar é que, ao que tudo indica, houve uma seqüência de negligências que
resultam nessa triste e dolorosa tragédia, negligências estas praticadas por
órgãos públicos e por pessoas que colocaram como interesse maior o lucro e
ganhos financeiros acima dos procedimentos de segurança.
A comoção social é fator importante para impulsionarmos avanços de
cidadania e direitos. O que pode parecer oportunismo é, na verdade, a grande
oportunidade para exigir melhores condições de segurança e a cobrança de
responsabilidades para o entretenimento. Se a sociedade não se organiza para
cobrar medidas efetivas agora, com certeza o tempo se encarregará do
esquecimento. Se os jovens não cobrarem condições de segurança em todas as
edificações que reúnem grandes públicos para entretenimento e diversão,
continuarão vulneráveis, como sempre, em sua segurança e proteção. Se pais e
mães não ampliarem o seu olhar de segurança sobre escolas, clubes, praças,
ginásios, ruas, rodovias, transporte público, continuarão deixando seus filhos
e filhas expostos a grandes riscos à sua vida e à dignidade.
Segurança tem de ser tratada como um problema público, garantindo
a todos e a todas as condições de proteção e sobrevivência. Importa, então, que
compreendamos a necessidade de termos mais segurança, em todos os aspectos,
modos e lugares. Não dá para ignorar as tragédias silenciosas e diárias do nosso
trânsito que mata em números iguais ou superiores aos de uma guerra. Não dá
para esquecer a violência silenciosa e covarde cometida contra os mais
vulneráveis e frágeis: nossas crianças, nossos idosos e nossas idosas. Não
ignoremos a estúpida violência de gênero praticada contra as mulheres. Não é
possível deixar de falar da violência e agressões originadas pelo mundo das
drogas e do tráfico, que destroça milhares de famílias brasileiras.
Praticamos no Brasil uma “cultura de tolerância e negligencia”,
que resulta em grandes tragédias, nem sempre tão visíveis e claras. Muitos de
nós toleramos situações, fatos ou atitudes que representam graves e sérios
riscos a nós mesmos e aos demais. Por preguiça, medo ou acomodação, não
exigimos e não cobramos dos demais e nem dos órgãos competentes ações que
preservem a vida, antes de agredi-la. Antes tarde que mais tarde, podemos
acordar de nossa apática cidadania.
Uma grande tragédia pode ser um convite generoso para cuidarmos
melhor das nossas vidas e das vidas alheias. A compaixão, este sentimento de
colocar-se no lugar do outro que sofre, pode ser um exercício de cidadania
ativa, que nos faça todos capazes de defender a vida, sempre que ela correr
riscos. Como já disse Anatole France, “a
compaixão é que nos torna verdadeiramente humanos e impede
que nos transformemos em pedra, como os monstros de impiedade das lendas”.
Fonte: Mundo Jovem
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